sábado, 26 de fevereiro de 2011

O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA ATRAVÉS DO BRINCAR

Autor: Inez Kwiecinski

1 INTRODUÇÃO



O tema escolhido para realizar o meu trabalho de graduação é sobre "O desenvolvimento da criança através do brincar". A escolha deste tema surgiu da necessidade de estudarmos como se dá o desenvolvimento da criança através do brincar e ao longo dos tempos, ao analisarmos jogos, brincadeiras e brinquedos infantis não apenas como simples entretenimento para as crianças se percebe como as atividades lúdicas possibilitam a aprendizagem e o desenvolvimento destas crianças em suas várias habilidades do nascimento aos seis anos.



Com base nesse entendimento, esse trabalho de graduação tem como problemática a "Educação para a vida em sociedade", e o "Ensino e cidadania planetária", seguindo esta linha, pesquisar e analisar como as crianças reagem ao estímulo dos jogos e brincadeiras e como essas brincadeiras podem contribuir no seu desenvolvimento, transformando-as e fortalecendo sua cidadania ainda é sem dúvida um tema inesgotável e que desperta interesse a muitos educadores e muito tem a me acrescentar.


Diante de uma série de dúvidas e questionamentos buscamos respostas. Há necessidade de encontrarmos soluções, tomar consciência das implicações e das complexidades que envolvem a construção do conhecimento.


Com esta pesquisa busquei compreender e aprofundar meus conhecimentos sobre o brincar na infância e suas implicações, refletir sobre a importância do brincar e da brincadeira no desenvolvimento da criança, ou seja, o brincar e suas relações com a aprendizagem. Além disso, apresentar a influência do brinquedo e as vantagens que a brincadeira traz para o desenvolvimento da criança, localizar as dificuldades encontradas pelos educadores em utilizar a brincadeira como ferramenta pedagógica e avaliar como, e se, a brincadeira pode propiciar condições para um desenvolvimento saudável da criança.


Para a criança o brincar não é apenas um passatempo ou "perda de tempo" como os adultos julgam. Suas brincadeiras e seus jogos estão relacionados a um aprendizado fundamental, ou seja, por meio dos jogos cada criança em determinada idade, cria uma série de indagações a respeito da vida.


Segundo Friedmann (2006, p 17),"o brincar já existia na vida das pessoas bem antes das primeiras pesquisas sobre o assunto". E como surgiu esse interesse pelo lúdico? Acredita-se que pela diminuição do espaço físico e temporal destinado a essa atividade, que supostamente tenha sido provocada pelo aparecimento das instituições escolares e pelo incremento da indústria de brinquedos, além da influência da mídia televisiva e a inclusão da mulher no mercado profissional.




2 JOGO, BRINCADEIRA, BRINQUEDO E BRINCAR


Embora tudo se pareça, cada uma dessas palavras tem sua conotação e uma definição distinta, Friedmann (2006, p.17) as coloca da seguinte maneira:


  • JOGO – Designa tanto uma atitude quanto uma atividade estruturada que envolve regras.

  • BRINCADEIRA – Refere-se basicamente à ação de brincar, ao comportamento espontâneo que resulta de uma atividade não-estruturada.

  • BRINQUEDO – Define o objeto de brincar, suporte para a brincadeira.

  • BRINCAR - Diz respeito à ação lúdica, seja brincadeira, jogo, uso de brinquedos ou outros objetos, do corpo, da música, da arte, das palavras etc.

Em cada enfoque, há várias formas de classificar o brincar. No estudo do jogo, da brincadeira ou do brinquedo, podemos observar o comportamento das crianças, suas características de sociabilidade, suas atitudes, reações e emoções. Ao passar para uma interpretação dos dados observados, surgem diferentes perspectivas de análise do comportamento de brincar: afetivas, cognitivas, sociais, morais, culturais, lingüísticas etc.


De acordo com Friedmann (2006), podemos analisar o brincar sob vários enfoques:


  • Sociológico – a influência do contexto social em que os diferentes grupos de crianças brincam;

  • Educacional – a construção do brincar para a educação, desenvolvimento ou aprendizagem da criança;

  • Psicológico – o brincar como meio para compreender melhor o funcionamento da psique, das emoções e da personalidade dos indivíduos, (exemplo a ludoterapia);

  • Antropológico – a maneira como o brincar reflete, em cada sociedade, os costumes e a história das diferentes culturas;

  • Folclórico – o brincar como expressão da cultura infantil através das diversas gerações, bem como as tradições e os costumes nelas refletidos através dos tempos.


2.1 JOGO


O jogo tem origem no termo latino jocus, que significa "gracejo, graça, pilhéria, escárnio, zombaria". Em latim, essa é a palavra originalmente reservada para as brincadeiras verbais: piadas, enigmas, charadas etc. (Friedmann, 2006, p.41).


Sabe-se que os jogos e as competições sempre despertaram interesse ao ser humano seja por esporte ou diversão. A educação lúdica esteve presente em todas as épocas, povos e contextos de inúmeros pesquisadores, formando hoje, uma vasta rede de conhecimentos não só no campo da educação, da psicologia, fisiologia, como nas demais áreas do conhecimento.


O jogo, para Kishimoto, (1994, p.16) pode ser visto como "o resultado de um sistema lingüístico que funciona dentro de um contexto social; um sistema de regras; e um objeto". Esses três aspectos permitem a compreensão do jogo, diferenciando significados atribuídos por culturas diferentes, pelas regras e objetos que o caracterizam.



Podemos definir como jogos, atividades lúdicas de: faz-de-conta, jogos simbólicos, motores, sensórios-motores, intelectuais ou cognitivos, jogos individuais ou coletivos, metafóricos, verbais, de palavras, políticos, de adultos, de crianças, de animas, de salão e uma infinidade de outros mostrando a multiplicidade de fenômenos incluídos na categoria ‘jogo' sendo que cada um joga à sua maneira, pois tais jogos, embora recebam a mesma denominação, cada um têm suas especificidades, suas regras, dentro do contexto social e cultural em que estão inseridos. (KISHIMOTO, 2003)


Nas escolas, porém, é muito comum ouvirmos educadores dizerem que "os jogos não servem para nada e não têm significação alguma dentro das escolas, a não ser nas aulas de educação física". Tal opinião está muito ligada a pressupostos da pedagogia tradicional, que exclui o lúdico de qualquer atividade séria ou formal como observado nas escolas participantes da pesquisa.


De acordo com Kishimoto (1994) o jogo, vincula-se ao sonho, à imaginação, ao pensamento e ao símbolo. A concepção de Kishimoto sobre o homem como ser simbólico, que se constrói coletivamente e cuja capacidade de pensar está ligada à capacidade de sonhar, imaginar e jogar com a realidade é fundamental para propor uma nova "pedagogia da criança". Kishimoto vê o jogar como gênese da "metáfora" humana. Ou, talvez, aquilo que nos torna realmente humanos.



2.2 BRINCADEIRA


"Brincadeira é o ato ou efeito de brincar. Etimologicamente, "Brincando + eria": significa divertimento, passatempo, distração". (Friedmann, 2006, p.42)


A brincadeira é a mais pura, a mais espiritual atividade do homem e, ao mesmo tempo, típica da vida humana como um todo – da vida natural interior escondida no homem e em todas as coisas. Por isso ela dá alegria, liberdade, contentamento, descanso interno e externo, paz com o mundo. Ela tem a fonte de tudo o que é bom. (...) Não é a expressão mais bela da vida, uma criança brincando? (...) A brincadeira não é trivial, ela é altamente séria e de profunda significância. Cultive-a e crie-a, oh, mãe; proteja-a e guarde-a, oh, pai! Para uma visão calma e agradável daquele que realmente conhece a Natureza Humana, a brincadeira espontânea da criança revela o futuro da vida interior do homem. As brincadeiras da criança são as folhas germinais de toda a vida futura; pois o homem todo é desenvolvido e mostrado nela, em suas disposições mais carinhosas, em suas tendências mais interiores. (Friedrich Froebel)


A brincadeira é uma atividade inerente ao homem. Durante a infância, ela desempenha um papel fundamental na formação e no desenvolvimento físico, emocional e intelectual da criança. Naturalmente curiosa, a criança se sente atraída pelo ambiente que a rodeia, cada pequena atividade é para ela uma possibilidade de aprender e pode se tornar uma brincadeira. Onde quer que a criança esteja o lúdico está sempre presente para que desse modo ela descubra o mundo à sua volta e aprenda a interagir com ele.


Froebel foi o primeiro educador a enfatizar a importância do brinquedo e do lúdico na educação infantil, "a brincadeira não é trivial, ela é altamente séria e de profunda significância". Zatz apud Froebel (2006, p.15). A criança leva sua brincadeira muito a sério, e é importante que o adulto a respeite nesse sentido. Quantas vezes não nos deparamos com respostas: "Agora não posso, estou brincando!" Ela considera que está ocupada quando está brincando, e merece toda a nossa consideração. Jamais deve-se interromper a concentração de uma criança nesse momento tão precioso e mágico.


Outro ponto importante e que não devemos deixar de mencionar é que quando a criança brinca de faz-de-conta e tenta reproduzir situações do dia-a-dia, ou mesmo nas atividades escolares, por mais que se tenha vontade de interferir ou mesmo ajudá-la mostrando como manipular os utensílios ou como organizar a brincadeira, é importante deixar que ela a faça do seu jeito, precisamos conter nossos impulsos. Não é o momento de limitar, e sim de encorajá-la, deixando que ela use a sua criatividade e imaginação, para que possa dizer: eu consegui sozinha!



2.3. BRINQUEDO


A história do brinquedo é tão antiga quanto a história do homem. Estudiosos do assunto dizem até que os brinquedos podem contar a história do próprio homem e sua evolução social, cultural e até política.


Muitos brinquedos por nós conhecidos hoje têm sua origem nas mais antigas civilizações. E alguns deles se apresentam em versões praticamente inalteradas, se considerarmos a distância temporal e cultural que nos separa deles.


Alguns exemplos valem ser citados, é o caso das bonecas, elas foram construídas, possivelmente há quarenta mil anos, na Ásia e na África, eram usadas em rituais. Acredita-se ter sido no Egito, há cerca de dois mil anos, que elas se transformaram em brinquedo, feitos de corda, pano e papel. Outros exemplos são os piões, que apareceram por volta do ano 3000 a.C. na Babilônia, as pipas apareceram na China no ano 1000 a.C. Outros mais recentes são os soldadinhos de chumbo, que nasceram no século XVIII como peças de jogos de guerra, praticados por reis famosos como o francês Luís IX. (Zatz, 2007 p.19).


De acordo com Zatz, (2007), "a presença do brinquedo no universo material das crianças de hoje é notável". Essa presença tão marcante dos brinquedos tem uma importância no mundo da criança que devemos reconhecer e respeitar. Entretanto, o lúdico não se restringe ao momento de interação com o brinquedo. Nem tão pouco há necessidade efetiva de a criança ter nas mãos um brinquedo para que possa brincar. Além do brinquedo como objeto específico, a noção de educação, num sentido mais amplo, pode envolver toda a rotina da criança. O lúdico está sempre presente, no que quer que ela esteja fazendo. O aprendizado e o desenvolvimento da sensibilidade podem ser estimulados no dia-a-dia, se os pais estiverem atentos e disponíveis para seus filhos.


A criança pequena tem uma necessidade muito grande de satisfazer os seus desejos imediatamente. É exatamente neste ponto que atuam os brinquedos, justamente para que a criança possa experimentar tendências irrealizáveis. O mundo dos brinquedos representa o ilusório e o imaginário, onde seus desejos podem ser realizados. (Lev Vygotsky).


Como já vimos, o ato de brincar é fundamental para a formação física, emocional e intelectual da criança. E os brinquedos são ferramentas que podemos oferecer aos nossos alunos para ajudá-los a se desenvolver de maneira mais saudável. Buscar o brinquedo ideal é um conceito que não existe. Cada brinquedo pode estimular determinadas qualidades e habilidades da criança, porém, não podemos esquecer que as fases do desenvolvimento podem tomar tempos diferentes da mesma. Se a criança apresenta alguma dificuldade com os brinquedos da idade apontada, não se deve hesitar em priorizar a criança e não o rótulo. Pois cada criança é única. (Zatz, 2007, p.30).


É uma verdade que o brinquedo é apenas o suporte do jogo, do brincar, e que é possível brincar com a imaginação. Mas é verdade também que sem brinquedo e muito mais difícil realizar a atividade lúdica. (...) Se a criança gosta de brincar, gosta também de brinquedo. Porque as duas coisas estão intrinsecamente ligadas. (Vital Didonet)



2.4 BRINCAR


No brincar, casam-se a espontaneidade e a criatividade com a progressiva aceitação das regras sociais e morais. Assim como molda a cultura contextualizada no tempo e no espaço, o brincar dela deriva. Não sendo uma prerrogativa humana, mas muito mais amplo e precoce, o lúdico afirma suas raízes em sociedades animais constituindo-se, não apenas como uma preparação à vida adulta, mas como uma atividade que contém sua finalidade em si mesma, que é buscada no e para o momento vivido. (OLIVEIRA, 2008)


Para Oliveira (2008, p.7), "é brincando que a criança elabora progressivamente o luto pela perda relativa dos cuidados maternos, assim como encontra forças e descobre estratégias para enfrentar o desafio de andar com as próprias pernas e pensar aos poucos com a própria cabeça, assumindo a responsabilidade pelos seus atos". Segundo ele, pais e educadores que respeitam a necessidade da criança de brincar estarão construindo, portanto, os alicerces de uma adolescência mais tranqüila ao criar condições de expressão e comunicação dos próprios sentimentos e visão de mundo.


Segundo Oliveira (2008, p.15), "ao analisarmos o brincar da criança, do nascimento aos seis anos, percebemos uma significação especial para a psicologia do desenvolvimento e para a educação, em suas múltiplas ramificações e imbricações, uma vez que":


  • é condição de todo o processo evolutivo neuropsicológico saudável que alicerça neste começo;

  • manifesta a forma como a criança está organizando sua realidade e lidando com suas possibilidades, limitações e conflitos, já que, muitas vezes, ela não sabe, ou não pode, falar a respeito deles;

  • introduz a criança de formar gradativa, prazerosa e eficiente ao universo sócio-histórico-cultural;

  • abre caminhos e embasa o processo de ensino/aprendizagem favorecendo a construção da reflexão, da autonomia e da criatividade.

A criança, ao brincar, aprende que não basta ter uma idéia nova e divertida, mas que é preciso, para pô-la em prática, convencer o grupo de que vale a pena, argumentando. Portanto, reforça a habilidade de negociação fazendo com que a criança descubra a importância de saber escutar, inclusive para fazer-se ouvir. Aprende assim, a pensar em equipe, a discutir sem se alterar, a ouvir críticas, modificar seus planos sem se sentir excluído ou perseguido.


3 ESTUDIOSOS DO BRINCAR


Ao longo da história da humanidade, foram inúmeros os autores que se interessaram, direta ou indiretamente, pela questão da brincadeira, do jogo, do brincar e do brinquedo. Friedmann (2006) enumera alguns dos principais estudiosos e a área em que desenvolveram seus trabalhos sobre o tema.


Historiadores: Huizinga, Caillois, Ariès, Margolim Jolibert (estudo do brincar a partir da imagem que cada contexto forma da criança), Manson.


Filósofos: Aristóteles, Platão, Schiller, Dewey, Spencer (o brincar como possibilidade de eliminar o excesso de energia represado na criança), Gross ("o jogo prepara a criança para a vida futura"), Stanley-Hall.


Linguistas: Vazden, Vygotsky, Weir.


Antropólogos: Bateson, Schwartzman, Sutton-Smith, Henriot, Brougère (conceitos sobre o jogo de acordo com o uso que se faz dele).


Escritores: Todos os escritores que relataram lembranças da infância de forma autobiográfica ou poética. Dentre eles, Cecília Meireles, Fernando Pessoa e Manoel de Barros.


Psicólogos: Bruner, Jolly e Sylva, Frein, Freud, Claparède, Erickson, Winnicott (o brincar como elemento fundamental para o equilibrio emocional da criança), Susan Isaacs, Melanie Klein, Piaget, Wallon, Vygotsky, Elkonin.


Educadores: Chateau, Vial, Alain (a importância do brincar infantil como recurso para educar e desenvolver a criança, desde que respeitadas as características da atividade lúdica), Rousseau, Dewey, Froebel.


Biólogo: Maturana.


Estudiosos da natureza do brincar: Huizinga (1951), Caillois (1967), Christie (1991), Fromberg (1987), Henriot (1989). Liberdade de ação do jogador ou o caráter voluntário e episódio da ação lúdica; o prazer (ou desprazer); a relevância do processo de brincar – o caráter improdutivo; a incerteza de seus resultados; a não-literalidade ou a representação da realidade; a imaginação e a contextualização no tempo e no espaço.




3.1 IDÉIAS E DEFINIÇÕES SOBRE O BRINCAR ATRAVÉS DOS TEMPOS


A seguir algumas definições sobre o lúdico. São definições bastante interessantes, uma vez que se encontram ao longo da história da humanidade e expressam as idéias de alguns importantes pensadores a respeito do brincar. Podemos perceber que o brincar é mesmo uma atividade muito antiga, porém necessária para resgatarmos nossas crianças.


" A recreação é descanso do espírito" (Aristóteles, 344 a.C.)


"Importância de aprender brincando, em oposição à utilização da violência e da repressão." (Platão, 420 a.C.)


"O estudo do jogo pode fornecer-nos ensinamentos preciosos para a arte de inventar." (Pascal, 1653)


"Os jogos da criança são o insubstituível lugar de uma auto-aprendizagem por si mesma, em que vemos que se trata de uma cultura livre... Por meio do jogo, a criança aprende a coagir a si mesma, a se investir de uma atividade duradoura, a conhecer e a desenvolver as forças do seu corpo." (Kant, 1787)


"Um homem somente brinca quando ele é humano no sentido amplo da palavra, e ele somente é humano no sentido da palavra quando ele brinca." (Friederich Schiller, 1787)


"O jogo é um remédio e um repouso que se dá ao espiríto para relaxá-lo, restabelecer suas forças, junto com as do corpo..." (Nicolas Delamare, século XVIII)


"O jogo resulta em benefícios intelectuais, morais e físicos e o erige[1] como elemento importante no desenvolvimento integral da criança. Os brinquedos são atividades imitativas, livre, e os jogos, atividades livres com o emprego dos dons." (Froebel, 1912).


"...A brincadeira é a atividade espiritual mais pura do homem neste estágio e, ao mesmo tempo, típica da vida humana enquanto um todo... Ela dá alegria, liberdade, contentamento, descanso externo e interno, paz com o mundo... O Brincar em qualquer tempo não é trivial, é altamente sério e de profunda significação." (Froebel, 1912)


"Por que você pergunta sobre o significado do brincar ? /Quando é o que eu penso e faço a cada dia, /'Brincar' é fazer o que minha natureza deseja. / ‘Trabalhar' é fazer o que minhas aptidões conseguem." (C. Chester, 14 anos, 1915)


"Brincando, as crianças observam mais atentamente e deste modo fixam na memória e em hábitos muito mais do que se elas simplesmente vivessem indiferentemente todo o colorido da vida ao redor." (Dewey, 1924)


"A fonte da atividade lúdica é a mesma da ação criadora, que reside, sempre, na inadaptação, fonte de necessidades, anseios e desejos." (Vygotsky, 1933)


"Há incerteza em toda conduta lúdica: nunca se tem conhecimento prévio da ação do jogador." (Caillois, 1958-1967)


"Toda a atividade da criança é lúdica, no sentido de que se exerce por si mesma." (Piaget, 1964)


"O jogo é uma atividade espontânea oposta à atividade do trabalho." (Piaget, 1964)


"É uma atividade que dá prazer..." (Piaget, 1964)


"Caracteríza-se por um comportamento livre de conflitos." (Piaget, 1964)


"Se brincar é essencial é porque é brincando que o paciente se mostra criativo." (Winnicott, 1975)


"O jogo infantil era uma questão de sobrevivência... O jogo tinha um potencial muito pequeno para modelar ou alterar a vida... A capacidade de fugir da realidade através do jogo... não poderia ser mais do que um mito. Mas era um mito maravilhoso – criava uma ambiguidade moral, mostrando as coisas como se poderia pensar que deveriam ser, não como eram... No holocausto...o jogo...tornou-se uma forma instintiva para compreender o absurdo e para ajustar o irracional...o jogo infantil é um reflexo da humanidade... a humanidade e a inumanidade estão refletidas nas crianças." (George Eisen, 1988)


"Brincar é uma atividade realizada como plenamente válida em si mesma. Brincadeira é... qualquer atividade vivida no presente de sua realização e desempenhada de modo emocional, sem propósito que lhe seja exterior." (Maturana, 1993)


"Viver no brincar é viver nossa relação biológica sem tentar controlá-la pela instrumentalização de nossas ações e relações. É viver sem confundir o fazer com intenções que levem a atenção para além da ação." (Maturana, 1993)


"O brincar é compreendido como espaço de elaboração considerado como um laboratório do pensamento infantil constituído por uma linguagem simbólica singular apoiada em brinquedos, objetos de uso cotidiano, materiais de construção e baseada em regras que estejam diretamente associadas à infância." (Referenciais Curriculares Nacionais, 1998)


"O brincar traz de volta a alma da nossa criança: no ato de brincar, o ser humano se mostra na sua essência, sem sabê-lo, de forma inconsciente. O brincante troca, socializa, coopera e compete, ganha e perde. Emociona-se, grita, chora, ri, perda a paciência, fica ansioso, aliviado. Erra, acerta. Põe em jogo seu corpo inteiro: suas habilidade motoras e de movimento vêem-se desafiadas. No brincar, o ser humano imita, medita, sonha, imagina. Seus desejos e seus medos transformam-se, naquele segundo, em realidade. O brincar descortina um mundo possível e imaginário para os brincantes. O brincar convida a ser eu mesmo." (Friedmann, 1998)


"...Para o adulto o brincar é saudade ou a recuperação daquela criança que fomos um dia... O brincar é um jogar com idéias, sentimentos, pessoas, situações e objetos... O jogo é uma brincadeira que evoluiu. A brincadeira é o que será do jogo, é sua antecipação, sua condição primordial. A brincadeira é uma necessidade da criança; o jogo, uma de suas possibilidades à medida que nos tornamos mais velhos." (Lino de Macedo, 2005)


4 O BRINCAR NA ESCOLA, UMA INVESTIGAÇÃO NECESSÁRIA


Definido o tema e com as questões construídas, parto para a construção de novos entendimentos e formas de aproximação entre a realidade e minhas dúvidas. Abaixo relaciono as perguntas que compuseram minha pesquisa.



O que é brincar?


Qual é a importância desta atividade para o desenvolvimento infantil e por quê?


Quais as formas utilizadas para estimular o brincar das crianças?


Como é a rotina do brincar das crianças: onde, duração, com quem, tipos de brincadeira, objetos utilizados?


Qual a relevância do brincar na escola?


A importância do brincar no desenvolvimento da criança em seu processo de aprendizagem e socialização é há muito tempo a preocupação de muitos pensadores e educadores. Porém, percebi em minhas pesquisas, que a brincadeira não faz parte do projeto pedagógico da maioria das escolas e da ação dos professores entrevistados. Esta constatação despertou interesse e me levou a aprofundar-me nesta temática para melhor compreendê-la e descobrir como a brincadeira pode ajudar o professor em seu fazer pedagógico.


Em trabalho de campo, entrevistando professoras da educação infantil da rede particular e privada, descobri que, embora a criança que brinca constrói-se como ser único e criativo, vejo que a prática pedagógica da maioria das professoras atuantes nas escolas públicas da cidade de Alvorada no Rio Grande do Sul ainda é desprovida de conhecimentos aprofundados sobre o significado e a importância dessa atividade para o desenvolvimento intelectual das crianças que estão sob sua responsabilidade. O mesmo não ocorre nas escolas privadas.



Na escola pública pude observar que, para o professor, na hora do recreio ou aula de educação física, é um momento de folga, ele autoriza brincadeiras livres e acredita que as crianças estão usufruindo de um momento de pura diversão, livre e prazerosa. Não podemos culpar apenas os professores, ouvimos freqüentemente comentários de pais, avós ou familiares que: "as crianças não estão fazendo nada, só brincando" e enquanto brincam, queimam energias ou se mantém ocupadas. Já na escola privada, o professor interage de maneira participativa e avaliativa. As atividades são dirigidas e orientadas. O tempo de brincar é respeitado e bem aproveitado por todos.


5 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL


Cada vez mais cedo as crianças estão ingressando no ambiente escolar, fazendo com que percam boa parte de sua infância, e a infância se caracteriza pelo brincar. É através do brincar que a criança constrói sua aprendizagem acerca do mundo em que vive. Brincar livremente, correr, trabalhar suas potencialidades, é brincando que a criança fantasia, aceita desafios e melhora o seu relacionamento com o grupo em que esta inserida.


Cabe à escola disponibilizar momentos lúdicos a criança, pois a escola ainda é um espaço seguro onde as crianças podem brincar e correr a vontade. Outro aspecto importante é que as crianças se relacionam com outras da mesma idade, mas com famílias e histórias bem diferentes, o que lhes proporciona um excelente laboratório de trocas de experiências.


A organização desse espaço supõe que se tenha uma percepção positiva da criança, vendo-a como capaz de interagir espontaneamente, desde que não encontre cerceamento físico ou pessoal à sua liberdade de movimento, expressão e comunicação.


Nesse sentido, a formação do educador infantil não se restringe a aspectos intelectuais e cognitivos, mas também aos psicológicos, com especial atenção aos afetivo-emocionais, já que, quanto menor a criança, menos consciência tem de si mesma como um ser separado e, conseqüentemente mais vulnerável e influenciável fica a estados de tensão, frustração, ansiedade, depressão, etc., por parte quem convive com ela.


O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (MEC, 1998) estabeleceu a brincadeira como um de seus princípios norteadores, que a define como um direito da criança para desenvolver seu pensamento e capacidade de expressão, além de situá-la em sua cultura. Atividades de brincadeira na educação infantil são praticadas há muitos anos, entretanto, torna-se imprescindível que o professor distinga o que é brincadeira livre e o que é atividade pedagógica. Ao optar por fazer brincadeiras com a turma, deve considerar que o mais importante é o interesse da criança por elas; se o objetivo for somente a aprendizagem ou desenvolvimento de habilidades motoras, poderá trabalhar com atividades lúdicas, só que não estará promovendo a brincadeira, e sim atividades pedagógicas de natureza lúdica.


Cabe ao professor a tarefa de estimular as brincadeiras, ordenar os espaços da escola, facilitar a disposição dos brinquedos disponíveis, mobiliário, e os demais elementos da sala de aula de maneira que se torne mais acessível e confortável tanto para ele como para as crianças. O professor também poderá brincar com as crianças, principalmente se elas o convidarem. Mas deverá ter o máximo de cuidado respeitando seu ritmo; é preciso muita sensibilidade, habilidade e bom nível de observação para participar de forma positiva.


A chave desta intervenção é a observação das brincadeiras das crianças, o professor deve conhecê-las, conhecer sua cultura, como e com quê brincam. Melhor seria se aproveitasse este momento para observar seus alunos, para conhecê-los melhor.


"A esperança de uma criança, ao caminhar para a escola é encontrar um amigo, um guia, um animador, um líder - alguém muito consciente e que se preocupe com ela e que a faça pensar, tomar consciência de si e do mundo e que seja capaz de dar-lhe as mãos para construir com ela uma nova história e uma sociedade melhor". (ALMEIDA,1987, p.195)



6 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Ao possibilitarmos à criança o acesso às brincadeiras e ao brincar, oferecemos a ela uma melhor qualidade de vida. Brincando ela expande uma grande quantidade de emoções, pela variedade de brincadeiras que vivencia, organiza melhor o seu mundo interior. E o mais importante, através do brincar acaba aprendendo de forma prazerosa, transformando um simples conhecimento em uma aprendizagem significativa.



A utilização dos jogos e das brincadeiras, do brincar como um meio educacional é um avanço para a Educação Infantil. Tomar consciência disto requer mudanças, o que nos leva a resgatar nossas vivências pessoais para incorporar o lúdico em nosso trabalho. Ainda há muito a ser aprendido e questionado, pois, o lúdico oferece condições de sociabilidade, levando a criança a se organizar mutuamente nas ações e intensificando a comunicação e a cooperação. Permite ainda, a descoberta do ‘outro' e isso repercute sobre a descoberta de si mesmo.



Diante de todas as questões expostas neste trabalho, evidencia-se que as atividades lúdicas, na escola possibilitam que sejam alcançados os objetivos educacionais que norteiam o trabalho pedagógico, como já foi comprovado por muitos pesquisadores e estudiosos, e que as experiências adquiridas pelas crianças nos seus primeiros anos de vida, são fundamentais para o seu desenvolvimento em todos os aspectos. Neste sentido, a educação infantil pode formar crianças que irão para a etapa de alfabetização, autônomas, críticas, criativas, ou ao contrário, dependentes, estereotipadas, com aversão ao trabalho escolar.



Assim, espera-se que esta investigação possa servir de incentivo aos educadores que não utilizam o lúdico no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que se demonstrou a importância dos jogos e brincadeiras para o desenvolvimento de crianças na Educação Infantil



Espero desta maneira, ter contribuído no sentido de alertar para a importância da inserção das atividades lúdicas, no contexto escolar, e que estas não sejam deixadas em um segundo plano, ou apenas no período do recreio. Desejo, ainda, que este estudo possa servir de incentivo para os professores inovarem suas práticas, e que a partir de agora tenham, nos jogos e brincadeiras, aliados permanentes, possibilitando às crianças uma forma de desenvolver as suas habilidades intelectuais, sociais e físicas, de forma prazerosa e participativa, uma vez que os jogos e brincadeiras são de grande contribuição para o processo de ensino e aprendizagem e não devem jamais ficar fora desse contexto.



Como relatei ao longo deste trabalho, acredito que a utilização dos jogos, brincadeiras e brinquedos na educação infantil ainda é, sem dúvida, um tema inesgotável. Novas opções têm se mostrado aos educadores, opções de aliados que vêm se integrando a esse mundo encantado que é a educação infantil. Novas profissões têm surgido na área do lúdico como, por exemplo, a de "brinquedista" e até mesmo os "doutores da alegria" que salvam vidas nos hospitais por onde andam. Creio que este seja um tema para uma nova pesquisa!





REFERÊNCIAS




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FERNANDEZ, Alicia. Psicopedagogia em psicodrama: morando no brincar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.



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ZATZ, Silvia. ZATZ, André, HALABAN, Sergio. Brinca Comigo!: tudo sobre o brincar e os brinquedos. São Paulo: Marco Zero, 2006.




[1] Erige, v. t. Erguer; construir; instituir; levantar

http://www.artigonal.com/educacao-infantil-artigos/o-desenvolvimento-da-crianca-atraves-do-brincar-4107949.html


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Dificuldades de Aprendizagem

Dificuldades De Aprendizagem


Autor: MARIA SALETE CORRÊA CARVALHO

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Maria Salete Corrêa Carvalho

(Professora/psicopedagoga, graduada em Estudos Sociais e História, especialista e com mestrado em Psicopedagogia)

Ao abordarmos o tema dificuldades de aprendizagem, podemos tecer uma série de reflexões a partir de diferentes linhas de pesquisa que embasam a teoria e a prática nessa área de conhecimento.

O termo dificuldade de aprendizagem têm se mostrado um assunto que ainda gera discussões e dificuldades na sua conceituação.

O National Joint Committee on Learning Disabilities (NJCLD), composto por representantes de oito das mais importantes organizações nacionais dos EUA assim define dificuldade de aprendizagem: “Dificuldade de Aprendizagem (DA) é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos que se manifestam por dificuldades significativas na aquisição e uso da escuta, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Esses transtornos são intrínsecos ao indivíduo, supondo-se devido à disfunção do sistema nervoso central, e podem ocorrer ao longo do ciclo vital. Podem existir, junto com as dificuldades de aprendizagem, problema nas condutas de auto-regulação, percepção social e interação social, mas não constituem, por si próprias, uma dificuldade de aprendizagem. Ainda que as dificuldades de aprendizagem possam ocorrer concomitantemente com outras condições incapacitantes (por exemplo, deficiência sensorial, retardamento mental, transtornos emocionais graves) ou com influências extrínsecas (tais como as diferenças culturais, instrução inapropriada ou insuficiente), não são o resultado dessas condições ou influências”. (NJCLD, 1988, P. 1).

Assim sendo, recolhe-se a essência daquilo que podemos entender por dificuldade de aprendizagem, a partir de um enfoque fundamentalmente educativo e para a tomada de decisões de provisão de serviços de educação especial.

Essa definição foi apoiada pela maioria das organizações de profissionais e científicas implicadas nos temas de educação especial na América do Norte.

Enfatizam-se vários aspectos que irão se desintrincando ao longo da exposição. As dificuldades de aprendizagem podem ser um fenômeno que afeta toda a vida das pessoas, motivo pelo qual não se pode falar somente de criança com DA, mas também, de adolescentes e adultos com dificuldades de aprendizagem, tornando-se necessário considerar para a provisão de serviços e apoios. Um exemplo disso é a disponibilidade de serviços de atenção às pessoas com dificuldades de aprendizagem em diversas universidades.

São muitos os aspectos discutíveis no termo dificuldades de aprendizagem, termo este que foi e é proposto como mais aceitável do que os específicos de dislexia, disgrafia, discalculia, disfasia, entre outros termos.

Dificuldades de aprendizagem é um estudo abrangente que necessita de pesquisa, estudo interdisciplinar envolvendo os diferentes especialistas e profissionais da saúde e da educação, tornando-se um desafio para os estudiosos do referido tema.

Teorias de Aprendizagem

Numa perspectiva conducionista, a aprendizagem é concebida como um mecanismo de "estímulo - resposta". Apresenta-se certo material a um aluno e espera-se uma dada certa resposta. Após esta operação o professor analisa as respostas dadas e fornece a informação referente aos resultados atingidos. Por último, espera-se que os resultados positivos estimulam o aluno a interiorizar os conteúdos da sessão ou lição, e os resultados negativos o convençam a voltar a pensar. Nesta teoria o aluno é encarado de uma forma passiva, sendo frequentemente reduzido a um mero receptáculo de saberes que lhe são transmitidos independentemente dos seus estados cognitivos. Em síntese, esta teoria faz tábua rasa dos conhecimentos que o aluno já possui antes de iniciar a aprendizagem, ignora também os seus interesses e ritmos de aprendizagem

Na abordagem construtivista, a aprendizagem é concebida como um processo de acomodação e assimilação em que os alunos modificam as suas estruturas cognitivas internas nas suas experiências pessoais. Nesta teoria os alunos são encarados como participantes, aprendendo de uma forma que depende do seu estado cognitivo concreto. Os conhecimentos prévios, interesses, expectativas, e ritmos de aprendizagem são levados em conta nesta aprendizagem. Ela é entendida essencialmente como o processo de revisão, modificação e reorganização dos esquemas de conhecimento inicial dos alunos e a construção de outros novos, e o ensino como um processo de ajuda prestado a esta atividade construtiva do aluno. O professor é encarado como um mediador entre os conteúdos e os alunos, cabendo-lhe organizar ambientes de aprendizagem estimulantes que facilitem esta construção cognitiva.

É importante conhecer as diferentes teorias de aprendizagem, mas é imperativo que compreendamos o modo como as pessoas aprendem e as condições necessárias para a aprendizagem, bem como identificar o papel de um professor nesse processo. Essas teorias são importantes porque possibilitam ao professor adquirir conhecimentos, atitudes e habilidades que lhe permitirão alcançar melhor os objetivos do ensino (FREITAS et al, 2006, p. 3).

Afirma o autor:

As teorias de aprendizagem buscam reconhecer a dinâmica envolvida nos atos de ensinar e aprender, partindo do reconhecimento da evolução cognitiva do homem, e tentam explicar a relação entre o conhecimento pré-existente e o novo conhecimento. A aprendizagem não seria apenas inteligência e construção de conhecimento, mas, basicamente, identificação pessoal e relação através da interação entre as pessoas.

Na aprendizagem escolar, existem os seguintes elementos centrais, para que o desenvolvimento escolar ocorra com sucesso: o aluno, o professor e a situação de aprendizagem. As teorias de aprendizagem têm em comum o fato de assumirem que indivíduos são agentes ativos na busca e construção de conhecimento, dentro de um contexto significativo.

O processo de aprender exige uma integração entre cognição, afetividade e a ação e, nas pessoas que não apresentam dificuldades, esta integração flui, permitindo a aprendizagem.

Já aqueles que por algum motivo apresentam dificuldades, esta integração aparece obstaculizada, desorganizada, o que provoca muita tensão diante das situações de aprender. O não conseguir aprender por repetidas vezes faz com que o aprendiz forme de si uma imagem de fracasso e se iniba ou se afaste de novas situações de aprendizagem

Barbosa (1999) assevera que “este afastamento vai impedindo a sua evolução cognitiva e inibindo o seu desejo de aprender, o que gera desconforto diante de novas aprendizagens, provocando por certo um novo fracasso”

Uma dificuldade de aprendizagem é um transtorno permanente que afeta a maneira pela qual, os indivíduos com inteligência normal e acima da média selecionam, retém e expressam informações. As informações que entram ou que saem podem ficar desordenadas conforme viajam entre os sentidos e o cérebro.

As dificuldades de aprendizagem devem ser consideradas como uma causa possível se uma criança tem dificuldade em um ou mais dos seguintes aspectos:

* Pensar claramente; * Escrever legivelmente;

* Soletrar com exatidão; * Aprender a ler;

* Aprender a calcular; * Copiar formas;

* Recordar fatos; * Seguir instruções;

* Colocar coisas em seqüência.

Ou seja, ela frequentemente fica confusa, é impulsiva, hiperativa ou desorientada, tornando-se frustrada e rebelde, deprimida, retraída ou agressiva.

O professor deve estar preparado para identificar possíveis distúrbios/dificuldades no processo de aprendizagem, enfocando aspectos orgânicos, afetivos e pedagógicos, durante todo o processo.

Para Belleboni (2004), quando há o aparecimento do fracasso escolar, outros profissionais, além do fonoaudiólogo, como psicólogos, pedagogos, psicopedagogos, devem intervir, auxiliando através de indicações adequadas e pertinentes a cada caso.

Considerando-se as diversas causas que podem interferir no processo ensino-aprendizagem, investigar o ambiente no qual a criança vive e a metodologia abordada nas escolas é importante antes de se traçar o enfoque terapêutico, uma vez que a criança pode não apresentar o distúrbio de aprendizagem, mas apenas não se adaptar ou não conseguir aprender com determinada metodologia utilizada pelo professor, como também a carência de estímulos dentro de casa. Por outro lado, muitas crianças podem não apresentar nenhum fator externo a ela e mesmo assim não conseguir desenvolver plenamente suas habilidades pedagógicas. É o caso das crianças com distúrbio de aprendizagem, cujas limitações intrínsecas se manifestam através de déficits lingüísticos, alteração no processamento auditivo e outros vários fatores que podem prejudicar significativamente o aprendizado da leitura e da escrita.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O aluno com dificuldade de aprendizagem pode exigir um atendimento variado, incluindo: aulas particulares, aconselhamento acadêmico especial, desenvolvimento de habilidades básicas, assistência para organizar e desenvolver habilidades de estudo adequadas e/ou atendimento psicopedagógico. Alguns alunos com dificuldades de aprendizagem não exigem o uso extensivo de pessoal técnico, fundos extras ou a ajuda de professores, mas pode precisar de modificações apropriadas no programa e subsídios para auxiliá-los. Estes incluem leitores, copiadores, anotadores, uma prática que lhes garanta mais tempo para realizar trabalhos, projetos ou testes e, livros ou conferências gravadas.

Para Fonseca (1995), a criança com dificuldade de aprendizagem não deve ser “classificada” como deficiente. Trata-se de uma criança normal que aprende de uma forma diferente, a qual apresenta uma discrepância entre o potencial atual e o potencial esperado. Não pertence a nenhuma categoria de deficiência, não sendo sequer uma deficiência mental, pois possui um potencial cognitivo que não é realizado em termos de aproveitamento educacional.

As escolas precisam fornecer às pessoas com dificuldades de aprendizagem uma educação apropriada, incluindo bons sistemas escolares, bons profissionais que se dediquem ao diagnóstico cuidadoso e ao atendimento remediador de qualidade.

BIBLIOGRAFIA

BARBOSA, L. M. S. O projeto de trabalho: uma forma de atuação psicopedagógica. Curitiba. Ed. Gráfica Arins, 1999.

BELLEBONI, A. B. S. Qual o Papel da Escola Frente às Dificuldades de Aprendizagem de Seus Alunos? 2004.

DEUSCHLE, V. P., DONICHT, G. & PAULA, G. R. Artigo: Distúrbios de aprendizagem - conceituação, etiologia e tratamento, 2006.

FONSECA, V. da. Introdução às dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

FREITAS, A. C. et al. Teorias da aprendizagem. Universidad Evangélica del Paraguay- UEP, Maestria y Doctorado en Ciencias de la Educación, 2006.

FONTES, C. Teorias de Aprendizagem e Software Educativo. Disponível em: http://educar.no.sapo.pt/teorias.htm Acesso em: 16 de junho de 2009.

http://www.artigonal.com/educacao-artigos/dificuldades-de-aprendizagem-1228106.html


Perfil do Autor

Eu me chamo Maria Salete, graduada em Estudos Sociais e História, especialista e com mestrado em Psicopedagogia. Professora de Geografia e História, especializanda em História e Sociedade, em Educação Profissional e graduanda em Pedagogia. Atuei com Atendimento psicopedagógico aos alunos com dificuldades de aprendizagem e atraso cognitivo. Escrevi alguns artigos para jornais (Esporte e Saúde - Macaé, Folha de Londrina, Jornal da UNISUL e Jornal A Notícia - Joinville), e atualmente sou estudante da UTFPR, da ULBRA e pesquisadora do tema: O processo de resistência do negro durante o período de escravidão no Brasil.